Durante um longo período, as pessoas achavam que fanzine era um programa de televisão, devido a uma produção de grande sucesso na TV Cultura nos anos 1980, que popularizou o termo. Contudo, os fanzines antecedem muito a esse programa.
A palavra 'fanzine' é contração do termo em inglês fanatic magazine, em português, revista de fãs, publicações independentes, geralmente mimeografadas, que davam vazão ao interesse de vários segmentos de fãs. Os primeiros fanzines surgiram nos EUA, sendo o primeiro deles chamado The Comet, voltado à literatura de ficção científica, ambiente pródigo nesse tipo de publicação. Muitos escritores importantes, como Ray Bradbury, por exemplo, foram editores de fanzines no início de suas carreiras.
Os fanzines chegaram ao Brasil nos anos 1960, na forma de boletins de fã-clubes. Sua disseminação ampliou no final dos anos 1970, com o movimento punk, que tinha na produção independente um de seus fundamentos filosóficos.
Com a disponibilidade da tecnologia reprográfica, os fanzines ganharam dinamismo e multiplicaram-se, com um crescimento explosivo nos anos 1980, principalmente no campo dos quadrinhos, arte que estava mergulhada numa profunda crise comercial, ainda hoje sentida. Artistas sem espaço para publicar profissionalmente, lançaram mão dos fanzines para continuar produzindo ou para iniciar-se na carreira. Centenas de personagens e artistas nasceram e cresceram nos fanzines brasileiros, que eram distribuídos pelo correio ou vendidos de mão em mão, numa verdadeira rede-social analógica.
Com a chegada da internet, os fanzines adaptaram-se. Alguns tornaram-se saites, outros, blogues, outros ainda, ebooks. Uns poucos, que insistiram em seguir no formato real, estão hoje recuperando leitores e prestígio, pois as tecnologias atualmente disponíveis permitem a publicação de fanzines de ótima qualidade gráfica, compatíveis com as publicações comerciais, vendidas em bancas e livrarias.
Mas o que torna os fanzines realmente interessantes é o fato deles permitirem que qualquer pessoa possa criar e sustentar uma mídia para veicular suas ideias, que podem ser divulgadas dentro de pequenas comunidades com um custo acessível, e o exercício desse diálogo ajuda a construir identidade, cultura e consciência, tanto dos leitores quanto dos próprios editores.
Apoiado nesses princípios é que, em 2013, submeti ao edital do Vai-Valorização de Iniciativas Culturais, do município de São Bernardo do Campo, o projeto Fanzines de São Bernardo, voltado ao fomento da produção de fanzines na cidade, especialmente de histórias em quadrinhos, através de uma série de oficinas espalhadas nos espaços públicos. O projeto foi aprovado e os trabalhos iniciaram em 2014, com uma oficina na Gibiteca Municipal Eugênio Colonnese, na qual foram produzidos os primeiros fanzines do programa.
O Fanzinarium vai mostrar o trabalho deste projeto, acompanhando os resultados das oficinas, mas não apenas isso. Também vai disponibilizar gratuitamente todos os fanzines produzidos, e manter o leitor informado sobre os lançamentos de outros fanzines.
Seja bem vindo a aventura.
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